General Shopping (GSHP3)
abril 18, 2018Desde que fundei o blog Fazendo as Contas, hå mais de dois anos, nunca dediquei uma publicação a determinada empresa ou a determinada ação.
A General Shopping (GSHP3), no entanto, me intrigava...
Afinal, com 15 shoppings sob administração e 4 outlets, os mĂșltiplos dessa empresa estavam muito bons:
Preço/Lucro – 1,27
Preço/Valor Patrimonial – 0,26
Rentabilidade sobre o PatrimĂŽnio LĂquido – 20,5%
No fim das contas, considerando-se um P/L de 1,27, em menos de 18 meses eu teria recuperado meu investimento, que seria extremamente seguro, devo dizer, jĂĄ que, para cada real investido, teria direito a quase R$ 4,00 do patrimĂŽnio lĂquido da General Shopping. E, como a companhia possuĂa uma rentabilidade sobre o patrimĂŽnio lĂquido superior a dos bancos, nada poderia dar errado...
Para fins de comparação, pode-se registrar que a Iguatemi e a Aliansce, que tambĂ©m atuam no setor de shopping centers, possuĂam, no mesmo perĂodo, mĂșltiplos nada animadores:
Iguatemi (IGTA3)
Preço/Lucro – 30,28
Preço/Valor Patrimonial – 2,33
Rentabilidade sobre o PatrimĂŽnio LĂquido – 7,71%
Iguatemi (IGTA3)
Preço/Lucro – 37,87
Preço/Valor Patrimonial – 1,45
Rentabilidade sobre o PatrimĂŽnio LĂquido – 3,83%
Por isso, diante dessa enorme diferença dentro de um mesmo setor, decidi procurar mais informaçÔes.
Depois de alguns minutos de pesquisa, descobri que, apesar de suas receitas serem contabilizadas em reais, oriundas da administração de seus shoppings e outlets, a maior parte da dĂvida da General Shopping estĂĄ vinculada Ă variação do dĂłlar, isto Ă©, os recursos para a construção e aquisição de seus empreendimentos foram obtidos no exterior.
Apesar disso, seria possĂvel dizer que uma grande dĂvida em dĂłlar pode ser administrada, mediante a adoção de instrumentos de proteção cambial… Um dia, a dĂvida estaria quitada e os lucros seriam sensacionais…
Nesse aspecto, convĂ©m lembrar que eu jĂĄ comentei em um outro artigo que, embora as empresas do setor de consumo nĂŁo estejam sujeitas a grandes variaçÔes de receita com a valorização da moeda americana, podem ser bastante impactadas devido Ă existĂȘncia de dĂvidas em moeda estrangeira, que podem, evidentemente, ser administradas.
No caso da General Shopping, no entanto, temo que nĂŁo serĂĄ tĂŁo fĂĄcil administrar sua enorme alavancagem…
Isso porque, ao analisar as demonstraçÔes contĂĄbeis da companhia, verifiquei que a General Shopping possuĂa em 2017 uma dĂvida de mais de R$ 1,3 bilhĂŁo, sendo R$ 550 milhĂ”es representados por tĂtulos de crĂ©dito perpĂ©tuo em dĂłlares, remunerados a uma taxa de 10% ao ano, e R$ 515 milhĂ”es representados por tĂtulos de crĂ©dito perpĂ©tuo em dĂłlares, remunerados a uma taxa de 13% ao ano.
Quem nĂŁo gostaria de ser credor dessa empresa? Receberia juros de paĂs subdesenvolvido em uma moeda forte como o dĂłlar. E para sempre, pois sĂŁo tĂtulos de crĂ©dito perpĂ©tuo.
Esse fator, por si sĂł, jĂĄ me deixou com um pĂ© atrĂĄs, jĂĄ que, a meu ver, nĂŁo faz sentido para uma empresa captar recursos no exterior com taxas de juros tĂŁo altas, quando Ă© possĂvel obter recursos no Brasil com taxas muito menores, por meio, por exemplo, da emissĂŁo de CRIs.
Mesmo as dĂvidas contraĂdas pela General Shopping em reais, contudo, sĂŁo, digamos, nĂŁo usuais. Um emprĂ©stimo com o BNDES, por exemplo, foi feito com base na “taxa Selic + 6,8% a.a.”, trĂȘs vezes mais que a TJLP atual.
Ă, a General Shopping tem que aprender a negociar seus emprĂ©stimos...
Em conclusĂŁo, mesmo com ativos sĂłlidos, observei que a General Shopping encontra-se muito alavancada, com uma dĂvida nada saudĂĄvel.
Por isso, como investidor conservador, decidi nĂŁo arriscar nessa empresa.
--- // ---
Atualização:
Em setembro de 2020, a General Shopping (GSHP3) encontrava-se em uma situação financeira precĂĄria, com um patrimĂŽnio lĂquido negativo de quase R$ 500 milhĂ”es, um valor de mercado de menos de R$ 100 milhĂ”es e um prejuĂzo acumulado, nos Ășltimos 12 meses, mais de quatro vezes maior que a sua receita lĂquida.
0 comentĂĄrios