Títulos de (Des)capitalização

julho 27, 2016

Talvez você nunca tenha adquirido um título de capitalização, mas com certeza conhece alguém que já o fez.

Isso porque, segundo a revista Exame, são esses títulos utilizados por 6,1% dos brasileiros que recebem entre R$ 800,00 e R$ 4.000,00 e por 15,8% dos brasileiros que recebem acima de R$ 4.000,00, só perdendo, como forma de “investimento”, para a tradicional caderneta de poupança.

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A maioria dos títulos de capitalização, porém, oferece uma rentabilidade nominal próxima a zero, isso quando ainda gera algum rendimento. Ou seja, mesmo os títulos que, em tese, deveriam oferecer uma rentabilidade superior, “garantindo”, por exemplo, a correção pelo IPCA ou pela caderneta de poupança, na realidade entregam algo muito distante disso: com o desconto de taxas de carregamento e de sorteio, o valor que o aplicador receberá, ao final, é praticamente o mesmo, sem qualquer rendimento nominal (real, então, vá sonhando).

E, se não bastasse isso, muitos títulos de capitalização estabelecem um prazo de carência, que pode chegar a 10 anos, de modo que, se o investidor quiser resgatar o “investimento” antes de seu vencimento, só poderá fazê-lo com um deságio de, por exemplo, 30%. Sendo assim, se você adquiriu um título de capitalização, em 2014, por R$ 1.000,00, e quiser resgatá-lo em 2015, só receberá R$ 700,00.

Em outras palavras, embora sejam vendidos pelos bancos como uma forma de concorrer a prêmios e de guardar dinheiro, a conhecida economia forçada, os títulos de capitalização deveriam ser chamados de “títulos de descapitalização”, pois são tão nocivos ao consumidor que, salvo por quem os vende, não são nem mesmo considerados uma espécie de investimento.

Para se ter uma ideia, em países desenvolvidos esses títulos sequer são oferecidos, seja porque a legislação os proíbe ou porque não existiriam interessados.

É frustrante, nós sabemos, mas vejamos o exemplo de um dos mais famosos títulos de capitalização oferecidos no Brasil (caso queira ver um exemplo de título de capitalização com aplicações mensais, clique aqui):

Conceitos:
Reserva de capitalização: é a parcela do título que será efetivamente remunerada e que será devolvida, no vencimento, ao adquirente.
Custos de sorteio: referem-se à parcela que irá cobrir os custos com os sorteios e com os respectivos prêmios (isso mesmo, você está pagando pelos prêmios).
Custos de carregamento: referem-se à parcela destinada às diversas despesas dos títulos, tais como administração, operação e comercialização (em outras palavras, é o lucro da instituição financeira).

Super PIC (Itaú Uniclass):
Investimento: R$ 500,00 (em uma única parcela)
Prazo: 48 meses
Reserva de capitalização (remunerada a taxa de 0,5% a.m.): R$ 393,55 (78,71%)
Custos de sorteio: R$ 24,85 (4,97%) (esses R$ 24,85 você nunca mais verá)
Custos de carregamento: R$ 81,60 (16,32%) (esses R$ 81,60 você nunca mais verá)
Quanto você receberá pelo título em 48 meses: R$ 500,00 (igual ao valor investido)
Quanto você receberia na poupança em 48 meses (0,66% a.m.): R$ 685,65
Quanto você deixou de ganhar: R$ 185,65 (37,13% de R$ 500,00)

Perceberam a pegadinha? Quando um título diz que remunera o capital com base na remuneração da caderneta de poupança (na taxa SELIC, na taxa CDI, etc), na verdade ele remunerara apenas parte do capital aplicado (no caso, R$ 393,55), sendo que o restante (R$ 24,85 e R$ 81,60) é de certa forma perdido já no momento da aplicação.

Pois bem, pode-se dizer que só adquirem títulos de capitalização aqueles que querem deliberadamente perder dinheiro, ou que vivem na esperança de ganhar algum pequeno prêmio, que nem de perto justifica a perda gerada com as taxas de carregamento e de sorteio (a possibilidade de ser contemplado, na maioria dos casos, é de 1 em mais de 100 mil, quando não em mais de 1 milhão).

Por isso, se lhe oferecerem um título de capitalização, não aceite, guarde seu dinheiro na poupança ou simplesmente o gaste, pois esse “investimento” serve apenas para gerar lucro para as instituições que os oferecem, enquanto o seu poder de compra é continuamente corroído pela inflação até o resgate do valor do título.

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