Os bancos brasileiros lucram demais?

novembro 22, 2017

Em números absolutos, o lucro dos bancos brasileiros pode parecer irreal e desproporcional.

Afinal, nos últimos 12 (doze) meses, as 4 maiores instituições financeiras do país lucraram juntas aproximadamente R$ 52 bilhões: Itaú (R$ 21,6 bilhões), Bradesco (R$ 14,5 bilhões), Banco do Brasil (R$ 8,8 bilhões) e Santander (R$ 7,1 bilhões).


Sendo assim, é fácil entender porque os brasileiros, inflamados por um discurso nitidamente populista, frequentemente reclamam das altas taxas cobradas pelos bancos que atuam no país, defendendo o aumento dos impostos cobrados de instituições financeiras, bem como a intervenção estatal destinada à redução das taxas de juros e das tarifas bancárias.

O governo da ex-presidente Dilma Rousseff, cassada em 2016, depois da adoção de medidas econômicas e políticas que levaram o país à pior recessão de sua história, por exemplo, decidiu elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido cobrada de instituições financeiras para 20%, enquanto as empresas em geral continuaram a ser tributadas com base na alíquota de 9%.

Pode parecer uma ideia genial, destinada a aumentar a arrecadação, a “redistribuir” a renda e a angariar o apoio da opinião pública, mas é preciso ter muita ingenuidade para acreditar que esse aumento de impostos não seria transferido aos consumidores, uma vez que, em qualquer tipo de empresa, aumentos nos custos de produção e aumentos da carga tributária tendem a ser transferidos para o preço das mercadorias vendidas e dos serviços prestados.

E, quando todo um setor é afetado, a transferência é praticamente automática, já que não há, nesse caso, uma briga por novos mercados.

Mas, enfim, não é essa a questão.

Na realidade, penso que nossas críticas deveriam ser direcionadas à qualidade dos serviços prestados e à forma como os empréstimos e financiamentos são concedidos pelos bancos brasileiros, e não especificamente aos lucros das instituições financeiras e ao spread bancário, que nada mais são que um efeito gerado por aqueles dois fatores.

Isso porque não é possível comparar as taxas de juros cobradas no Brasil e as taxas de juros cobradas em países altamente desenvolvidos, como os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão.

Em primeiro lugar, é interessante registrar que a taxa básica de juros, paga pelos governos a quem adquire seus títulos, é de 7,5% a.a. no Brasil (há cerca de um ano, era de 14,25% a.a.), 0,75% a.a. nos Estados Unidos, 0% a.a. na Alemanha e -0,1% a.a. no Japão.

Dessa forma, como os títulos de governos soberanos podem ser considerados os investimentos mais seguros existentes, seria ilógico imaginar que uma empresa no Brasil investiria o capital de seus sócios ou acionistas objetivando uma retorno inferior a 7,5% a.a. (ou, no caso, a 10,6%, que equivale a taxa Selic acumulada nos últimos doze meses).

No Japão, porém, como a taxa de juros é negativa, pode-se dizer que qualquer lucro já é bem-vindo, de modo que, se uma empresa, ou mesmo um banco, apresentar uma rentabilidade de 2% ou 3% ao ano, já estará ganhando inclusive da inflação.

Aliás, vamos fazer uma simples pergunta: você, que pode investir com segurança na tradicional caderneta de poupança, esperando um rendimento anual de 7% (considerando-se a taxa acumulada), ou no Tesouro Direto, esperando um rendimento líquido anual de aproximadamente 9% (considerando-se a taxa acumulada nos últimos doze meses), investiria em uma empresa ou em um banco esperando obter lucros inferiores a 10% ao ano, calculados sobre o capital investido, considerando-se todo o risco político e jurídico existente no Brasil e as altas taxas de inadimplência?

Acredito que a resposta seja "não".

Pois bem, considerando a atual taxa básica de juros brasileira, os três maiores bancos do país possuem uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido relativamente modesta, que há anos orbita na faixa 10%/17%: Itaú (17,2%), Bradesco (13,1%), Santander (11,3%), Banco do Brasil (10,7%).

Em outras palavras, é fácil perceber que a rentabilidade dos maiores bancos do país não está muito distante da taxa básica de juros acumulada nos últimos doze meses – 10,6%.

Seus lucros bilionários são formados apenas porque estas instituições possuem patrimônios líquidos de dezenas de bilhões, patrimônios estes formados pelo investimento de centenas de milhares de acionistas e acumulados ao longo de décadas.

Se considerarmos, por outro lado, que a rentabilidade média dos grandes bancos americanos é de 7%, veremos que, enquanto a rentabilidade dos bancos brasileiros é de aproximadamente 1,8x a taxa básica de juros do país (1,27x se considerarmos a taxa de juros acumulada nos últimos doze meses), a rentabilidade dos bancos sediados nos Estados Unidos é de aproximadamente 9x a taxa de juros daquele país.

Tendo isso em consideração, convém observar que outro ponto muito questionado quando se criticam instituições financeiras encontra-se no fato de que as maiores empresas do mundo, em ativos, são bancos.

Se considerarmos que as pessoas depositam suas economias nos bancos, que as empresas depositam suas reservas nos bancos e que mesmo governos depositam suas disponibilidades nos bancos, é óbvio que os bancos terão ativos muito maiores que as demais empresas.

Também terão, no entanto, os maiores passivos, já que o dinheiro neles depositado não é realmente deles, e sim de terceiros, mas isso os críticos costumam esquecer.

A propósito, é preciso destacar que são poucos os que reclamam dos resultados bilionários apresentados, por exemplo, por empresas petrolíferas, por montadoras de automóveis e por conglomerados de tecnologia, cuja rentabilidade sobre o patrimônio líquido em muito supera a dos bancos que atuam no país.

Para ilustrar essa situação, podemos apontar a atual rentabilidade sobre o patrimônio líquido de algumas empresas listadas em bolsa, como a Multiplus (180%), a Vulcabras (dona da marca Azaléia) (80,8%), a Natura (43,5%) e a Renner (24,1%). Empresas não listadas, sobretudo grupos de mídia e montadoras de automóveis, possuem múltiplos tão atraentes quanto, da mesma forma que a maioria dos comerciantes que atuam no país. Boa parte das franquias, por exemplo, prometem retornos sobre o capital investido de 30% a 60% ao ano.

Continuando, sabendo que o lucro dos bancos brasileiros, apesar de alto em termos absolutos, não é nem um pouco desproporcional, gostaria de apontar algumas armadilhas bancárias que frequentemente pesam no bolso do consumidor:

Títulos de capitalização: são extremamente nocivos ao investidor e raramente geram algum rendimento substancial, rendimento este que nunca é superior ao da poupança.

Fundos de investimento: apesar de serem uma alternativa interessante de investimento, os melhores fundos de investimento não são geridos pelos grandes bancos brasileiros, mas por gestoras independentes, já que os fundos oferecidos pelos bancos foram criados para, basicamente, gerar receitas com taxas de administração (fundos referenciados e de renda fixa, por exemplo, cujas taxas de administração orbitam em torno de 0,5% a.a. nas gestoras independentes, possuem taxas de administração de até 3% nos 5 maiores bancos do país).

Juros bancários: com raras exceções, bons pagadores e maus pagadores pagam o mesma taxa de juros ao obter um financiamento ou ao utilizar o crédito rotativo (é necessário criar uma diferenciação, pois os bons pagadores não devem arcar com a inadimplência dos maus pagadores, como se estivessem dentro de um mesmo cesto).

Dito isso, gostaria de fazer um apelo às instituições financeiras: parem de emprestar dinheiro para quem, evidentemente, não tem condições de pagar.

No fim das contas, quando um banco empresta R$ 100.000,00 para uma empresa com capital social de apenas R$ 20.000,00, ele está implorando pela inadimplência.

E a inadimplência de maus pagadores torna-se o ônus de pessoas com eu e você.

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